sexta-feira, 28 de maio de 2010

Migração

Era claro para a mãe de Luiz que a escolha do irmão e, por conseqüência do filho, de se irem dali para um lugar tão distante, não se resumia às diferenças geográficas, semi-árido ali, planície tropical de lá, mas havia outros fatores dos quais podemos nomear o propagandístico, que a ela chegava arrematado assim: lá se tem trabalho todos os dias do ano, como a pouco lhe disse Luiz. Como ponto final de sua dor, encerrando as batidas do coração numa lágrima solitária, lhe aparecia a urgência da diligência, amanhã sai o pau de arara, amanhã Luiz quer ir, amanhã Luiz vai, nem oportunidade de ser uma boa mãe ela terá, preparando-lhe uma matula recheada com carne de sol, arroz e feijão, pois já é noite; e quem viu a lágrima escorrer foram as estrelas apenas, que não contarão pra ninguém, sabem guardar segredo como bem quer Laíde, por isso é que não lhe caiu a segunda lágrima, pois denunciam-se uma à outra, principalmente quando saem de cada olho. Laíde segura o terço, a cruz e a imagem de São Felix de Cantalice, rogando proteção a Luiz, ao invés de dar graças, a esse santo cujo dia é o 18 de maio e a quem Luiz também é devoto.