terça-feira, 18 de agosto de 2009

Notas

É de se estranhar essa balbúrdia toda no Senado. Mais estranho ainda é o silêncio geral. O Senado está apodrecendo de tanta vaidade e de tanta hipocrisia que nem manifestação pacífica sua polícia deixa fazer. Mas era de se esperar; na verdade, nada disso é estranho, pois o silêncio geral, o meu, o seu, o do vizinho, denuncia que não sabemos colocar pessoas dignas para ocuparem as cadeiras do Senado por oito anos. Mas, pra não correr o risco de morrer engasgado toda vez que escuto e ou assisto às notícias sobre essa palhaçada toda, deixo aqui minha celebração pelos 10 do Senado. Talvez não saibam, mas, sem eleição, representaram milhões de brasileiros quando gritaram Fora Sarney.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Paisagem com giz pastel seco.















Copo de Leite, óleo em tela.


















Carla (irmã), óleo em tela.



















domingo, 21 de junho de 2009

Dói ausente o momento - VII

Dói ausente o momento
Em duas almas
Uma que dói
A outra que vive.

Dói ausente o momento
Em duas almas
Uma que vibra
A outra que ecoa.

Dói ausente o momento
Em duas almas
Uma que sorri
A outra que se desculpa.

Dói ausente o momento
Em duas almas
Uma que marca pegadas
A outra, passos.

Dói ausente o momento
Em duas almas
Uma que chora
A outra também.

Dói ausente o momento
Em duas almas
Uma que verte solidão
A outra, lágrimas.

Dói ausente o momento
Em duas almas
Uma que pinta
A outra que sente.

Dói ausente o momento
Em duas almas
Uma que grava
A outra que filma.

Dói ausente o momento
Em duas almas
Uma que dói
A outra também.

Dói ausente o momento
Em duas almas
Uma que se aquece
A outra que se apaga.

Dói ausente o momento
Em duas almas
Uma que sente falta
A outra que se farta.

Dói ausente o momento
Em duas almas
Uma de ferro
A outra de aço.

Dói ausente o momento
Em duas almas
Uma transparente
A outra de vidro.

Dói ausente o momento
Em duas almas
Uma que bate no muro
A outra que o atravessa.

Dói ausente o momento
Em duas almas
Uma que fala
A outra que cala.

Dói ausente o momento
Em duas almas
Uma que liga
A outra que se desliga.

Dói ausente o momento
Ao sol, despreocupado
Pois dói sem dor.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Dói ausente o momento - VI

Dói ausente o momento
Pálido no grito
Desconhecedor da sonora força.

Dói ausente o momento
Em dois corações novos
Um triste
O outro também.

Dói ausente o momento
Em dois corações novos
Um acompanhado da solidão.
O outro, solitário

Dói ausente o momento
Em dois corações
Um que mostra
O outro que lê.

Dói ausente o momento
Em dois corações
Um que não espera
O outro que senta.

Dói ausente o momento
Em dois corações
Um carente
O outro, ausente.

Dói ausente o momento
Em dois corações
Um gentil
O outro também.

Dói ausente o momento
Em dois corações
Um que cala
O outro que pensa, e não para.

Dói ausente o momento
Em dois corações
Um que é livre
O outro que é solto.

Dói ausente o momento
Em dois corações
Um que pisa
O outro que se esvai.

Dói ausente o momento
Em dois corações
Um que dança
O outro também.

Dói ausente o momento
Em dois corações
Um que olha
O outro que cerra os olhos.

Dói ausente o momento
Em duas bocas
Uma vermelha
A outra rosa.

Dói ausente o momento
Em duas bocas
Um que sorri
A outra também.

Dói ausente o momento
Em duas bocas
Uma que seca
A outra que molha.

Dói ausente o momento
Em duas bocas
Uma grande
A outra que pergunta.

Dói ausente o momento
Em duas bocas
Uma de lábios fartos
A outra de fartos lábios e, talvez, por isso, ausentes.

Dói ausente o momento
Em quatro olhos
Dois que se aproximam
Dois que se ausentam.

Dói ausente o momento
Em quatro olhos
Dois que se esclareçem
Dois que são pretos, pois ausentes.

Dói ausente o momento
Em quatro olhos
Dois tristes
Dois preocupados.

Dói ausente o momento
Em quatro olhos
Dois que falam
Dois que gemem.

Dói ausente o momento
Em quatro olhos
Dois que buscam
Dois que são buscados.

Dói ausente o momento
Em quatro mãos
Duas que amarram
Duas que desatam.

Dói ausente o momento
Em dois corações
Um que não espera
O outro que já se foi.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Dói ausente o momento - V

Dói ausente o momento
Pela batida do surdo que não houve
Contido pela ausência sonora

Dói ausente o momento
No espalhar de inexistente aroma
De flor que não se soma
Arranhada em olfativa ausência.

Dói ausente o momento
Preso aos cílios sem rédeas
Presente no olhar que se ausenta.

Dói ausente o momento
Desgostoso, na boca fria,
Queimado pelo fogo rosa
De degustada ausência.

Dói ausente o momento
No tato de sedoso toque
Da pele-botão que, ausente, não se abre.

Dói ausente o momento - IV

Dói ausente o momento
Na tristeza que se repete
E na ausência que fascina.

Dói ausente o momento
Pela doçura relembrada
Quando calado fez a noite
Laçado num intenso abraço.

Dói ausente o momento
Tenro, pois molhado
E delicado por segurada lágrima.

Dói ausente o momento
Pela lágrima caída
Segurada, pois confiada
Confiada, pois cuidada.

Dói ausente o momento
Repetido em solitário diário
Pois não alcançado por nenhuma palavra.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Dói ausente o momento - III

Dói ausente o momento
Ausência de estranha beleza
Momento de singela ternura.

Dói ausente o momento
No pacto de eterna dúvida
Na brisa de serena espera
E na fúria de escolhido sofrimento.

Dói ausente o momento
Feliz por que sincero
Triste por que momento.

Dói ausente o momento
Livre por que espera
Preso por que duvida
Morto por que momento.

Dói ausente o momento
Presente, como veludo macio,
Do toque de uma atenta lágrima.

domingo, 14 de junho de 2009

Dói ausente o momento - II

Dói ausente o momento
Ao alcance da criadora ausência
Mesmo que perfurado por geográfica distância.

Dói ausente o momento
Ferido de envenenada lança
Cravada na insistente lembrança
De uma alma ausente e errante.

Dói ausente o momento
Sem saber se passado
Por confundido em presente saudade.

Dói ausente o momento
Que insiste além da morte
Depois de estancado o ferimento
Dói no ausente corte.

Dói ausente o momento
Pois sem raiz sabido
Amigo do triste acaso.

sábado, 13 de junho de 2009

Dói ausente o momento

Dói ausente o momento
De distante se ver
Nunca aproximado, pois desde sempre momento.

Dói ausente o momento
Ausente da paixão latente
Na memória lida
E apagada de repente.

Dói ausente o momento
Demorado e inexistente
Apenas para ser, por mais uma vez, momento.

Dói ausente o momento
Como se dele não fosse
O gotejar lento do abdicado sangue
Minado de sincera foice

Dói ausente o momento
De boca esfriada
Filho dessa estranha ausência e desde sempre esperada.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Os olhos que dizem

De vida posta e disposta, saltam-lhe as lágrimas em corroídas pálpebras
A explodir, chora apenas e já nada cria, a pença cabeça
As têmporas, em latejo de torpor amante, esperam as furtivas horas
A viver, no revolto cabelo, o esperado toque e o olhar sem fala.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

O que os seus olhos dizem?

O que os seus olhos dizem?

De tudo o que se pode dizer por movimentos da abóboda ocular, contempla-se já de logo o céu e seus arredores. A isso veria quem tivesse a singela destreza de pendurar-se com as mãos no parapeito ciliar e olhasse pra de lá da janela córnea. A isso e a tudo mais o que se pode imaginar por de lá do nervo ótico, esse que estivesse por de cá do parapeito ciliar veria, lógico está que a também depender da altura de seu próprio parapeito, da convexidade de sua janela córnea e da destreza do além de seu nervo ótico, mas veria complexo que é assim dentro das pessoas. E eis que me surgem seus olhos que não possuem o parapeito ciliar; são inatingíveis; são insondáveis. Mas brilham, reluzem; como são lindos! Pretos. E sem parapeito, a visão é infinita, não imaginável pra lá de meu nervo ótico, mas estranhamente sentido por debaixo de minhas costelas.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

A bicicleta desgovernada

Desnecessário seria dizer que a reação de embabacamento experimentada por ela no momento em que viu a bicicleta desgovernada é experimentada por todos ali que presenciam a cena. Mas antes, não podemos passar sem a explicação sobre o adjetivo usado para caracterizar a atual situação da bicicleta: desgovernada. Alguém pode nesse momento estar se perguntando se a bicicleta está a andar batendo às coisas e aos muros e, se sim, como até agora não caiu. Mas não é isso o que as pessoas vêem, mas sim uma bicicleta que anda à calçada cimentada, sem bater, numa velocidade nem rápida e nem lenta. Ora essa, e por que então do adjetivo a lhe manchar as correias, perguntaria outra pessoa. E a resposta é exatamente pelo simples detalhe de ninguém a governar, restando, para essa tarefa, apenas sua própria vontade bicicleta. Ora, ninguém ali, presente naquela casa, mesmo que acostumados a discutirem a questão sobre as diferentes formas de se viver, falar, cheirar, ouvir, tatear e degustar essa nossa existência, dependendo, essas formas, exatamente do que, num frágil acordo, as pessoas concordam a cerca do que é vontade e sua potência criadora e destrutiva, enfim, mesmo que seja rica essa discussão, ninguém ali presente já ouvira, vera, pensara ou imaginara a vontade de uma bicicleta, daí a nossa precipitada e errônea conclusão que diz que as bicicletas não possuem vontade própria. Mas também, mesmo que errônea a conclusão, espero que o relato não seja reprimido, pois afinal não se vê por aí, a cada esquina, bicicletas com vontades próprias, o que deixa passar com permissão a adjetivação, imprópria, porém coerente, de desgovernada à bicicleta da garota.

domingo, 3 de maio de 2009

A noite

A noite

À noite o mundo não dorme. Correm aos cantos os notívagos. Buscam saciar a fome pela lua, pelo escuro quase negro, mas que denuncia os contornos dos corpos, a silhueta de um busto ou movimento de cabelos.
À noite, o mundo não sonha. Encontra-se a realidade nua e crua, as putas à espera, os crentes aos bandos, andarilhos incansáveis e playboys torrando o saco de Narciso.
À noite, o mundo não para. Correm, nas veias asfálticas, os carros a brincarem com a vida ou a ganharem-na em cada centavo da corrida.
À noite, o mundo não se cala. Falam os morcegos, os faróis estalam, os dentes picam, o sangue jorra, o vento sopra, as folhas balançam, os olhos reviram, os corpos transam. Mas, os pássaros, ninguém os escuta.
À noite, as notas agudas são reais; às notas graves, as grades para, quem sabe, amanhã.
A noite é bela.
Victor Melo

domingo, 5 de abril de 2009

Palavras, para quê?

Palavras, para quê?

Quero que me saiam palavras que insistem em manter, dentro de mim, um trânsito caótico, num ir e vir sem freio nem direção, palavras que vão e vêm sem fim e colidem entre si.
Quero que me saiam as palavras, pois não agüento que elas me entrem aos ouvidos, palavras dos outros e que confundo como minhas e insisto em lhes dar um sentido, sentido ao que não se pode ordenar.
Quero que elas me saiam para que eu me torne um escritor e, sendo assim, torne-me algo, ou melhor, uma palavra que já possui direção: o escritor escreve; é aquele que deixa os riscos tomarem forma entendível no papel e que, no final, a união dessas formas produz uma outra que, para o escritor, denuncia uma cumplicidade entre elas.
Quero que me saiam as palavras para que a mosca que insiste em dizê-las cá dentro da minha cabeça silencie-se e que seu sangue se torne tinta nanquim, polvo voador, para manchar a folha branca; uma mancha-borrão cuja forma se crie na imaginação como, quando crianças, fazemos com as nuvens. E a forma dessa mancha será ela mesma como se apresenta, mesmo que não haja palavra para apresentá-la e eu não a criarei.
Quero que me saiam as palavras para que eu possa dormir sozinho e acordar descansado.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Traço no papel

O traço está no papel.
É irrevogável.
O risco no papel divide-o na sombra e na luz.
Faz seguir um caminho, o autor, do fim da saída de um impulso que escorre até a admiração.
O homem põe-se na obra, no traço.
E vive junto aos seus impulsos
Em riscos.

Victor Melo

domingo, 29 de março de 2009

Quadros - paisagens e natureza morta


Óleo em tela.


















Zerão, em Londrina, com giz pastel seco.


















Óleo em tela.













Óleo em tela.











Óleo em tela.














Casario, óleo em tela.



















Óleo em tela.














Paisagem, óleo em tela.

Quadros - rostos

Gandhi, desenho com grafite.














Tela a giz pastel seco.













Moça de revista, com grafite.













Menino de revista, com grafite.













Gandhi, óleo em tela.


















Bill Porter, personagem do filme "De Porta em Porta", com grafite.

















Chiquinha, óleo em tela.